quinta-feira, 22 de julho de 2010

Apresentação


 


 


 

...Stillicidi casus lapidem cavat.

(Sêneca, Naturales Questiones, 4,3)


 


 

Ao ousarmos nos inserir no universo da atividade científica, buscamos expor uma visão clara e precisa do que vem a ser ciência, pois, para nós, é a partir da ciência e pela ciência que se educa e disciplina o espírito humano, somente através dela e por ela que nos tornamos homens. Toda área do conhecimento deve ter como vontade, missão e fim o querer à ciência. Para tanto, se faz necessário compreender a ciência em sua essência e experimentá-la, coisa que não acontecerá se ficarmos dissertando a respeito de um novo conceito de ciência ou enquanto ficarmos afirmando a ausência de pressupostos da ciência moderna com relação à ciência antiga. Se, por exemplo, ficarmos no litoral, recolhendo as formosas conchinhas com espátulas mecânicas e transportando-as em furgões, o mar, em toda sua magnitude e esplendor, continuará inexplorado e portanto desconhecido. Assim, concordamos com Heidegger quando ele afirma que a ciência deve continuar a ser.

Devemos recorrer ao início, se quisermos, por vez, compreender e experimentar a ciência em sua essência. Início esse, que é o surgimento da filosofia grega, onde pela primeira vez na história da humanidade, através do logos, do caráter de um povo e de sua língua, o homem ergue-se diante do dorso inexplorado da natureza e o interroga. Toda ciência é, no fundo, filosofia, quer queira ou não. A filosofia é o alfa e o omega do saber, é a base e a pirâmide de todo conhecimento. Toda ciência é refém da filosofia e de seu advento. É dela que retira a força de sua essência, pois, tal como no início, ainda continua sua subsidiária.

Para que se possa compreender a essência da ciência, se faz necessário recorrer à essência originariamente grega da ciência.

O grande esforço da ciência grega foi o de estabelecer um discurso sobre o ente, de interrogar o ente que conserva-se oculto em seu todo.

A ciência teve seu início a mais de dois milênios e, no entanto, como fator de conhecimento humano ela é muito recente. Podemos afirmar com certeza que antes da última era glacial a arte já estava bem desenvolvida, como nos mostram as pinturas rupestres, no entanto, não podemos afirmar com igual segurança sobre a ciência, que desde os gregos até os dias de hoje, sofreu e vem sofrendo mudanças constantes através do progresso da ação humana.

A essência originariamente grega da ciência é grandiosa, e o seu início ainda permanece. Não ficou esquecido no passado, perdido para sempre em um tempo remoto. O início ainda é. Não ficou para trás, mas antes, se encontra à nossa frente, no futuro. A ciência é a obstinação admirativa dos gregos frente à mudança do ente, que deve ser interrogado simplesmente por ter sido posto em questão. Neste sentido a essência da ciência é de interrogar, mantendo a descoberto, no meio da incerteza do ente, sua totalidade.

Seguindo esse princípio, a essência desta disciplina consiste em ser um convite para o pensar, não para um pensar qualquer, mas um pensar interrogativo, admirativo que é a essência da ciência. E dessa forma, ao registrarmos aqui nossas interrogações, buscamos cumprir nossa missão que é o querer à ciência.

Se, de fato, é a partir da ciência e pela ciência que se educa e disciplina o espírito humano, esta disciplina se propõe a ser uma contribuição para os que querem mergulhar nos questionamentos da existência humana, de forma que possam ampliar seus conhecimentos numa busca incessante pelo aprimoramento do espírito humano.

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