quinta-feira, 22 de julho de 2010

1a. aula: Construção Histórica da Sociologia

Almir Sandro Rodrigues


 

"Aula de vôo"

O conhecimento

Caminha feito lagarta.

Primeiro não sabe que sabe.

E voraz contenta-se com o cotidiano orvalho

Deixado nas folhas vividas das manhãs.


 

Depois pensa que sabe

E se fecha em si mesmo:

Faz muralhas

Cava trincheiras,

Ergue barricadas.

Defendendo o que pensa saber

Levanta certeza na forma de muro

Orgulha-se de seu casulo.


 

Até que maduro

Explode em vôos

Rindo do tempo que imaginava saber

Ou guardava preso o que sabia.

Voa alto sua ousadia

Reconhecendo o suor dos séculos

No orvalho de cada dia.


 

Mesmo o vôo mais belo

Descobre um dia não ser eterno

É tempo de acasalar

Voltar à terra com seus ovos

À espera de novas e prosaicas lagartas.


 

O conhecimento é assim

Ri de si mesmo

E de suas certezas.

É meta da forma

    Metamorfose

    Movimento

Fluir do tempo

Que tanto cria como arrasa

A nos mostrar que para o vôo

É preciso tanto o casulo como a asa.

Apresentação:

Estamos iniciando as nossas aulas de Sociologia da Educação no curso Pedagogia da Faculdade Pe. João Bagozzi, tendo por objetivo maior propiciar aos educandos e educandas conhecimentos e habilidades necessárias para compreenderem melhor a sociedade, as relações sociais pelas quais interagem os seres humanos, perceber o como superar problemas e conflitos que são construídos no processo sócio-histórico.

A sociologia é uma ciência que pode nos possibilitar ver melhor os acontecimentos em sociedade, pois todo ser humano é um ser social. E, como ser social dependemos do processo de socialização para melhor interagir com os outros.

É importante também perceber que a sociedade rege-se por normas e regras construídas pelos agrupamentos sociais e, que, muitas vezes, definem padrões sociais alicerçados nas diferenças culturais, religiosas, econômicas, políticas e sociais. Essas diferenças podem construir relações sociais desiguais ou fraternas.

Enfim, estaremos em 10 aulas convivendo e buscando construir um processo de educação baseado na mútua-ajuda, na relação de solidariedade entre seus atores sociais, ou seja, nós.

Vamos lá!


 

Índice:

Ementa    2

Objetivo Geral    2

Objetivos Específicos    2

1. Impulso inicial: "Dinâmica da Ilha"    3

2. Por que sociologia?    4

2.1- Conceitos    4

2.2- Construção histórica da sociologia    4

3. A realidade em foco    5

Preparando a próxima aula    7

Referências Bibliográficas    7


 


 

Ementa

Estaremos abordando ao longo desta aula os seguintes conteúdos: Conceitos de sociedade. Construção histórica e conceitos de sociologia. A importância da Sociologia. O uso da sociologia na análise da realidade.


 

Objetivo Geral

Possibilitar que os educandos e as educandas do Normal Superior conheçam a construção histórica da Sociologia.


 

Objetivos Específicos

  • Construir com os(as) educandos(as) a percepção de sociedade e suas diversas concepções.
  • Reconstituir com os(as) educandos(as) alguns conceitos de sociologia.
  • Compreender o processo de construção histórica da sociologia.


 


 

1. Impulso inicial: "Dinâmica da Ilha"


 

É fundamental para podermos iniciar nossas aulas de sociologia pensarmos o que é viver em sociedade, para isso vamos desenvolver a atividade conhecida por Dinâmica da Ilha, que pode ser desenvolvida individualmente ou, preferencialmente, em grupo. O objetivo desta atividade é debater sobre sociedade e suas diferentes concepções.


 

Vamos lá:

  • Estávamos viajando, de navio ou barco, para um destino distante de nossa origem, infelizmente naufragamos. Todos são obrigados a nadar rapidamente até uma ilha. Não tivemos nenhuma perda humana (ninguém morreu), pois, por sorte, esta ilha localizava-se perto do local do naufrágio e, por azar, muito longe do local de origem e do destino inicial. Também, por sorte, a ilha reúne todas as condições naturais para a sobrevivência, mas:
  • Não há a menor possibilidade de sair da ilha, de resgate ou de retorno à "civilização".
  • Não foi possível levar nada, tudo que era instrumento ou recurso que trazíamos no barco afundou no naufrágio. Só dá para contar com as pessoas e com os recursos naturais da ilha. (Observe que você não está sozinho na ilha).


 


 

Pergunta fundamental: O que é necessário para sobreviver na ilha?


 


 

  • Após a realização da dinâmica, procure responder as seguintes questões:
  1. O que é uma sociedade?
  2. Quais as relações que podem existir numa sociedade?
  3. O que é preciso para poder viver em sociedade e como você se sente vivendo em sociedade?


 

Para aprofundar:

Alguns conceitos: O que é sociedade?


 

  • Podemos compreender:

"... uma espécie de contextura formada entre todos os homens e na qual uns dependem dos outros, sem exceção; na qual o todo só pode subsistir em virtude da unidade das funções assumidas pelos co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio, uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, estão condicionados, em grande parte, pela sua participação no contexto geral."


 

  • ou ainda, pode ser:


 

"A rede de relações sociais entre os indivíduos tende a ser cada vez mais densa; é cada vez mais reduzido o âmbito em que o homem pode subsistir sem elas."


 

2. Por que sociologia?

Estaremos nesta parte do material abordando alguns elementos básicos sobre conceitos e a construção histórica da Sociologia.


 

2.1- Conceitos

As relações sociais são fundamentais para a sobrevivência dos seres humanos, pois se observarmos a sociedade, evidenciamos que além das pessoas comerem, dormirem, respirarem, elas convivem em diversos espaços – trabalho, família, religião, lazer, organizações sociais, escola e outros. Nestes espaços as pessoas trabalham em troca de salário, se organizam em associações, sindicatos, vão assistir a um jogo de futebol, assumem o compromisso matrimonial. É possível pensar o ser humano sem estar vinculado a estas relações sociais?


 

Segundo o sociólogo Pérsio S. de Oliveira, "as pessoas apresentam os mais variados comportamentos. Alguns destes comportamentos – como andar, respirar, dormir – são comportamentos estritamente individuais, que se originam no indivíduo enquanto organismo biológico. Esses tipos de comportamento são estudados pelas Ciências Físicas e Biológicas. Por outro lado, receber salário, fazer greve, casar-se, são comportamentos sociais, pois só existem porque existe a sociedade, porque ao longo da História o homem organizou sua vida em grupo. Cabe às Ciências Sociais (sociologia) pesquisar e estudar o comportamento social humano e suas várias formas de organização"


 

Neste sentido podemos afirmar que a sociologia é a ciência que estuda o comportamento social de grupos humanos.


 

A sociologia faz o:

  • estudo das estruturas sociais: origem e forma das sociedades, tipos de organizações sociais, econômicas e políticas;
  • estudo das relações sociais e de suas transformações;
  • estudo das instituições sociais (origem, forma, sentido).


 

Portanto, a sociologia tem o intuito de aprofundar o conhecimento sobre o ser humano e a sociedade, através da investigação científica.


 

A sociologia "cumpre, portanto, um papel fundamental num mundo de mudanças e agitações sociais. Ela nos permite entender melhor a sociedade em que vivemos e compreender os fatos e processos sociais que nos rodeiam".


 

2.2- Construção histórica da sociologia

Refletir sobre os grupos e as sociedade em que vivem, como se organizam, compreender suas relações sociais, políticas, econômicas, culturais, sempre foram foco do olhar dos seres humanos ao longo da existência histórica da humanidade.


 

Vamos ver alguns recortes sociológicos na história:

  • Na antiguidade Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que "o homem nasce para viver em sociedade" (obra: Política).


 

  • No século XVIII, Giambattista Vico afirma que "o mundo social é, com toda certeza, obra do homem" (obra: A nova ciência). Já Rosseau diz que o ser humano sofre influência direta da sociedade, ou seja, "o homem nasce puro e a sociedade é que o corrompe" (obra: O contrato social).


 

  • Enfim, é no século XIX que a sociologia, enquanto ciência e área de investigação dos fatos sociais alcança um patamar de cientificidade, principalmente com Augusto Comte (primeiro a usar a palavra sociologia) e Émile Durkheim, Max Weber (ação social), Karl Marx (classe social).


 

Durkheim (1858-1917) "formulou as primeiras orientações para a Sociologia e demonstrou que os fatos sociais têm características próprias, que os distinguem dos que são estudados pelas outras ciências. Para ele, a Sociologia é o estudo dos fatos sociais".


 

Na próxima aula estaremos conhecendo alguns conceitos da sociologia, como "fato social", propostos por Durkheim e outros cientistas sociais.


 

Para refletir:

  1. Qual a importância da sociologia para nós seres humanos?
  2. Por que sentimos a necessidade de refletirmos sobre as relações sociais, políticas, econômicas, culturais dos seres humanos?
  3. Faça uma breve pesquisa sobre as origens históricas da sociologia. Por que a sociologia surgiu e quais as suas funções?


 

3. A realidade em foco

Neste momento é fundamental que você faça o processo de observação, análise e síntese, dos fatos sociais construídos em sociedade e, para tal, é essencial vislumbrar os vários aspectos que compõem nossa realidade.


 

Com esta perspectiva, desenvolva a leitura e interpretação do artigo "O Brasil do Terceiro Milênio" (encarte História do Brasil: os 500 anos do país, da Folha de S. Paulo, 1997).


 

O Brasil do Terceiro Milênio

"O país do futuro é uma terra de contrastes. Mais que dois chavões desgastados, as definições dadas ao Brasil, nos anos 50, pelo escritor austríaco Stefan Zweig e pelo sociólogo francês Roger Bastide se tornaram expressões pertubadoras. No alvorecer do terceiro milênio, o Brasil continua sendo, e é cada vez mais, um país de contrastes: a nação que possui a 11ª economia do mundo é a mesma que ocupa o 74º lugar no ranking de qualidade de vida. Em São Paulo, cidade mais rica da América Latina, pagam-se os salários mais baixos do continente. No país da Quarta maior rede de televisão do mundo, os índices de analfabetismo são comparáveis aos das nações mais miseráveis da África. Na nação que possui a maior floresta e o segundo maior rio do mundo, quase todos os rios são esgotos e o desmatamento engole milhares de hectares todos os dias.

A alma política, econômica, social e ecológica da nação parece sofrer de síndrome da personalidade bipartida: este país ainda não decidiu se deve ser o "médico" ou o "monstro". É o país que, muito propriamente, já foi batizado de Belíndia: uma inquietante mistura da Bélgica com a Índia. Ao chamar o Brasil de "terra de contrastes" em 1954, Roger Bastide se referia a complexidade muito menos cruéis; muito mais geográficas e impressionistas do que sociais e econômicas. Mas a pátria do homem cordial acabou se tornando também o paraíso da injustiça social.

Quase meio século depois do suicídio do escritor Stefan Zweig, o Brasil continua sendo o "país do futuro" – só que do pretérito. Austríaco de nascimento, Zweig chegou ao país após a Segunda Guerra Mundial. Mudou-se para Petrópolis/RJ e lá, encantado com o viço da natureza tropical, com a harmonia contrita com a qual os imigrantes alemães construíram suas vidas, com a amplitude das possibilidades, as benesses do clima e a fecundidade da terra, Zweig compôs um hino de louvação ao Brasil. Lido hoje, seu livro adquire um tom profundamente melancólico.

Ainda assim, o país que tentou construir 50 anos em 5; que sobreviveu aos anos de chumbo e aos anos "colloridos"; que mudou três vezes de moeda em menos de uma década; que tem a maior dívida externa do mundo e gasta mais do que arrecada; que maltrata seus velhos e suas crianças tem todas as chances de transformar "seria" em "será" e o "será", por fim, em "é". Não se trata de simples retórica: apontado pelo "The Wall Street Journal" como uma das três potências emergentes do final de século, o Brasil dispõe das condições necessárias para se tornar uma das nações mais poderosas do mundo. Mas, como ao longo dos primeiros 500 anos de sua história, os descaminhos do país têm sido maiores que os acertos, a radiografia do presente implica uma previsão sombria do futuro. Futuro que, de qualquer maneira, depende de todos nós."


 

O Brasil das Crianças:

Apesar de não ser mais um país predominantemente "jovem",

vivem no Brasil cerca de 35 milhões de crianças.

mais de 70% delas são pobres e cerca de 7 milhões

trabalham até 12 horas por dia.


 

Para finalizar:

  1. Qual foi a análise realizada pelo sociólogo francês Roger Bastide, citado no texto da Folha de S. Paulo, sobre o Brasil?
  2. Você concorda com a opinião desse sociólogo?
  3. Qual é a posição do jornalista que escreve o artigo da Folha de S. Paulo?
  4. E, qual a sua opinião sobre o tema abordado pelo texto: O Brasil do Terceiro Milênio?


 


 

Preparando a próxima aula

Realize uma pesquisa nos periódicos (jornais, revistas, folhetos e outros) de sua região, estaduais e/ou nacionais, com o objetivo de perceber quais são os fatos sociais que podem ser frutos da reflexão sociológica.


 

Esta pesquisa pode ser fonte para podermos melhor construir o conceito de sociologia e, também, para entendermos melhor qual é o objeto de estudo desta ciência sociológica.


 

Assim sendo, organize perguntas ou levante as dúvidas referentes a esta primeira unidade, para aprofundarmos em nossas próximas aulas os conhecimentos da Sociologia.


 


 


 

Referências Bibliográficas


 

  1. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia, 9a. edição, São Paulo, Editora Ática, 1994.


 

  1. TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à sociologia, São Paulo, Editora Atual, 1993.


 

  1. HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. Temas básicos da sociologia (cap.II: "Sociedade"), tradução de Álvaro Cabral, São Paulo, Editora Cultrix – Editora da USP, 1973.


 

  1. SCOTSON, John. Introdução à sociedade: uma introdução básica à sociologia, tradução de Graça Silveira, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1976.


 

  1. MARTINS, Carlos B. O que é sociologia, São Paulo, Editora Brasiliense, 1986.


 

  1. COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade, São Paulo, Editora Moderna, 1987.


 

  1. FOLHA DE S. PAULO. História do Brasil (elaboração de Eduardo Bueno, Zero Hora), São Paulo, PUBLIFOLHA, 1997, p. 289.

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