quinta-feira, 22 de julho de 2010

2. A PESQUISA


 

2.1 A RELAÇÃO PESQUISA-ENSINO NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO


 

A pesquisa é o fundamento, a atividade básica de toda e qualquer ciência, permitindo expressar, em forma de conhecimento, o mundo objetivo. As áreas do conhecimento humano que hoje são definidas como ciência eram, na sua origem, campos vagos e genéricos de possibilidades, que foram sendo, ao longo dos tempos, delimitados e delineados através de pesquisas e estudos metodológicos. O estatuto científico de cada área do conhecimento é resultante do esforço teórico-prático do ser humano em contato com a natureza e consigo mesmo.

Com o advento da sociedade moderna, a pesquisa assumiu papel fundamental como atividade científica, pois, investigando uma rica realidade, que se estende infinitamente, gera cada vez mais ciência e tecnologia. A realidade, entretanto, não se transforma mecanicamente em ciência e tecnologia, não se desvenda na superfície, isto é, não se a conhece pelas aparências, nem mesmo os esquemas explicativos dos quais se dispõe conseguem dar conta de todos os seus aspectos. A realidade é inesgotável não é possível explicá-la totalmente, ou seja, sempre existe o que descobrir. Este fato, por si só, justifica a pesquisa como instrumento essencial de trabalho nos novos campos de investigação.

É comum, nos meios acadêmicos, duas interpretações sobre a relação pesquisa-ensino-ciência:

  1. a idéia de que pesquisa e ensino são elementos de realidades absolutamente diferentes e não se relacionam; de que transmitir conhecimento é uma atividade específica e subseqüente, não podendo ser confundida com produção de conhecimento científico;
  2. o pressuposto de que a pesquisa e o ensino são elementos indissociáveis – duas faces da mesma moeda – vistas sob a perspequitiva de um novo paradigma pedagógico: não mais a mera transmissão do conhecimento, mas a sua produção.


     

    Na primeira versão da relação pesquisa-ensino-ciência, não cabe o fator pesquisa no ensino. Estando "pronta" a ciência, basta transmiti-la. Ensino é, pois, transmissão e assimilação de conhecimento, jamais sua criação ou produção. Só tem sentido ensinar o que é cientifico e que, portanto, já foi pesquisado e comprovado cientificamente.

    A postura que se evidencia no parágrafo anterior pauta-se nos moldes convencionais de que o conhecimento é produzido na academia, cabendo à educação básica divulgá-lo, como prescreve a legislação. Assim sendo, a LDB, lei 9394/96 não avança muito na perspectiva de superação dessa primeira versão, visto que no capítulo sobre a Educação Básica encontraremos a seguinte proposição: " Art. 22. A educação básica tem por finalidade tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores." No tocante à Educação Superior, podemos observar a existência de vários incisos que tratam de sua finalidade. Entre os que evidenciam tal afirmação podemos destacar:


     

    Art. 43. A educação superior tem por finalidade:

    I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

    II – incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

    VII – promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.


     

    Do exposto anteriormente, ressalta uma clara dicotomia: há um espaço/lugar onde se produz saber e outro onde este saber é divulgado e consumido. Como se não bastasse, o mesmo problema é reproduzido na própria docência, na academia: há os que produzem saber dedicando-se integralmente à pesquisa e há aqueles que só transmitem este saber os professores.

    Na Segunda concepção da relação pesquisa-ensino-ciência, a pesquisa é vista como princípio científico que se realiza no contexto do ensino. Esta visão não é tão recente nos meios acadêmicos, pois a Escola Nova1 já apresentava tal preocupação. Há, no entanto, que se reforçar a idéia de que, sob este prisma, pesquisar significa vivenciar a realidade, dialogando com ela criativa e criticamente.

    A pesquisa, assim concebida e praticada, pode ocorrer desde muito cedo, começando na infância e se estendendo por toda a vida, o que faz dela requisito de vida, progresso e cidadania. Por isso, há um engano na habitual afirmação de que o lócus da pesquisa é unicamente a academia, mais especificamente a pós-graduação, pis o diálogo com a realidade e sua conseqüente sistematização antecedem e excedem essa topologia e temporalidade.

    Propõe-se, aqui, a defesa desta Segunda tese como possibilidade resgatar a dimensão política-cultural e o rigor metodológico do ensino e, acima de tudo, de propiciar a criatividade na construção de novos caminhos para o conhecimento.

    Antes de tudo, é importante desmistificar a separação formal existente entre pesquisa e ensino nos vários níveis, denunciando a existência de funções implícita ou explicitamente institucionalizadas, que fazem com que a grande maioria dos professores se ocupe apenas em ensinar ( reproduzir ) e, por outro lado, um pequeno grupo privilegiado se encarregue de pesquisar (produzir saber).

    Esta elitização da pesquisa, de um lado, e a proletarização do ensino, de outro, em grande parte deve-se ao estigma presente no próprio ensino universitário:

    Mitificou-se a pesquisa, cercando-a de status especial, de fórmulas metodológicas e de técnicas que ensinam como produzir, trabalhar e utilizar dados. Tal procedimento pode resultar em banalizações e dissemina uma concepção de ciência atrelada ao empirismo e ao positivismo que, como já sabemos, é frágil e superada.

    Para que haja um avanço no sentido de romper com os preconceitos, os equívocos, os receios, o corporativismo e as práticas de cerceamento, em favor de uma nova concepção de ciência, é premente entender que seu fundamento última é a pesquisa vinculada ao ensino. Isto ocorre, por exemplo, na Europa, embora, com excessiva elitização: a pesquisa se restringe à academia. Não há distinção, em nível de terceiro grau, dos termos professor e pesquisador. É professor aquele que tendo conquistado espaço acadêmico próprio através da produção, tem bagagem suficiente e está preparado par ensinar.

    Na perspectiva que se vem discutindo até o momento, há que se enfatizar a importância do conceito de pesquisa vinculada ao ensino, para que se possa dar um salto qualitativo na questão do conhecimento. E, nesse sentido, é importante entender que a pesquisa é uma postura política, não é uma atividade isolada, sem continuidade, especial, mas uma postura de perquirir sempre o não desvendado, de rever sob outros prismas o já conhecido. Pesquisar é um processo que deve estar presente em toda ação educativa, como seu princípio e como pré-requisito de qualquer projeto emancipatório.

    Portanto, trata-se de situar a pesquisa em sua significação práxica, como instrumento didático-pedagógico e como prática cotidiana de intervenção na realidade, não como mero recurso de que o professor dispõe esporadicamente, mais como desencargo de consciência que propriamente como um compromisso com a produção do conhecimento histórico e a construção da ciência. A pesquisa, quando concebida como um compromisso social ou como hominização, constitui-se em fenômeno político na medida em que sue resultado reflete sempre interesses de que se serve o professor/pesquisador, por mais que se considere neutro ou que se considere neutro ou que se esconda por trás de sofisticadas técnicas ao realizá-la.

    A pesquisa, da forma como aqui é empregada, é uma atividade teórica-prática sempre empenhada em perscrutar a realidade histórico-social. Esta perspectiva encontra ressonância em Vieira Pinto, para quem a pesquisa é " (... ) o momento culminante de um processo de extrema amplitude e complexidade pelo qual o homem realiza sua suprema possibilidade existencial, aquela que dá conteúdo à sua essência de animal que conquistou a racionalidade: possibilidade de dominar a natureza, transformá-la, adaptá-la às suas necessidades." (PINTO. 1985, p.13 ).

    Para o autor, a pesquisa está relacionada à atividade prática ( trabalho humano) porque, assim como qualquer trabalho, se define como transformação da realidade pela ação construtiva do homem. A prática da pesquisa como trabalho surge com finalidades definidas, ligadas a determinadas necessidades da existência humana. Assim como o trabalho, a prática de pesquisar ( dimensão teórica ) resulta no aumento do domínio do homem sobre a natureza e, por conseguinte, em sentido lato, no surgimento da cultura.

    Definimos a pesquisa científica fundamentalmente como um ato de trabalho sobre a realidade objetiva. Sendo um ato de trabalho [ ... ] consiste em conhecer o mundo no qual o homem atua [ ... ] é sempre produtiva, inscreve-se entre as modalidades da produção social [ ... ] o trabalho de pesquisa científica faz-se sempre dirigido por uma finalidade, que, sendo apanágio da consciência dá a esse ato o caráter existencial que nele devemos reconhecer. ( PINTO, 1985, p. 457 ).

    Assim a pesquisa é o meio de emancipação, humanização, realização e produção da existência humana. Este é, para DEMO (1991), o verdadeiro fundamento da pesquisa enquanto princípio educativo e científico.


     


     

    2.2 TIPOS DE PESQUISA


     


     

    O planejamento de uma pesquisa depende tanto do problema a ser investigado, da sua natureza e situações espaço-temporal em que se encontra, quanto da natureza e nível de conhecimento do investigador.

    São consideradas as diferentes classificações desses tipos de pesquisa para utilizar apenas uma: a que leva em conta o procedimento geral que é utilizado para investigar o problema. Segundo esse critério, pode-se distinguir no mínimo dois tipos de pesquisa: a bibliográfica e a experimental.

    A pesquisa bibliográfica é a que se desenvolve tentando explicar um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros e obras congêneres.

    Na pesquisa bibliográfica o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da investigação.

    O objeto da pesquisa bibliográfica, portanto, é conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado tema ou problema, tornando-se um instrumento indispensável para qualquer tipo de pesquisa.

    Na pesquisa experimental, o investigador analisa o problema, constrói suas hipóteses e trabalha manipulando os possíveis fatores, as variáveis que se referem ao fenômeno observado, para avaliar como se dão suas relações preditas pelas hipóteses.

    Nesse tipo de pesquisa, a manipulação na quantidade e qualidade das variáveis proporciona o estudo das relações entre causas e efeitos de um determinado fenômeno, podendo o investigador controlar e avaliar os resultados dessa relações.

    A pesquisa de campo é muito usada em Sociologia, Psicologia, Política, Economia e Antropologia. Não é experimental, no sentido de não produzir ou de não reproduzir os fatos que estuda.

    A pesquisa de campo consiste na observação dos fatos tal qual como ocorrem, espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis relevantes para análises. Esta espécie de pesquisa não permite o estabelecimento de relações constantes entre determinadas condições.

    Fases da pesquisa de campo: inicialmente, deve-se realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto em questão. Tal estudo nos informará sobre a situação atual do problema, sobre os trabalho já realizados a respeito e sobre as opiniões; permitirá o estabelecimento de um modelo teórico inicial de referência, auxiliará no estabelecimento das variáveis e na própria elaboração do plano geral da pesquisa.

    Após a pesquisa bibliográfica prévia, de acordo com a natureza da pesquisa, cumpre determinar as técnicas que serão utilizadas na coleta de dados, as fontes da amostragem, que deverá ser significativa, isto é, representativa e suficiente para apoiar as conclusões; é preciso ainda, antes que se parta para a coleta de dados, estabelecer as técnicas de registro desses dados e as técnicas de sua análise posterior.

    Estudo de caso é a pesquisa sobre um determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade, para examinar aspectos variados de sua vida. O estudo de Caso está dentro da Pesquisa Descritiva. Esta observa, registra, analisa e correlaciona fatos e fenômenos sem manipulá-los. Busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, tanto, do indivíduo tomado isoladamente, como de grupos e comunidades mais complexas.

    Na pesquisa descritiva os dados, por ocorrerem em seu habitat natural, precisam se coletados e registrados ordenadamente para seu estudo propriamente dito.

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